Vários são os depoimentos que se cruzam neste período festivo onde aqueles que dão voz e vez aos silenciados ou grupos marginalizados curvam-se também nas celebrações dos 50 anos de independência para expressarem suas opiniões quanto a realidade socioeconómica e não só do país que para eles se traduz numa lastimosa situação.
Por: João Afonso
A precariedade que assola várias famílias angolanas e uma esperança enterrada constituem uma das maiores preocupações dos jornalistas ouvidos pelo Jornal Liberdade. Para estes, a condição social do país marcada pela fome e pobreza tem agudizado cada vez mais as pessoas que no dia-a-dia ainda sentem a falta de um pão à mesa como inicialmente descreve o correspondente da DW África no Bengo.
António Ambrósio entende que os 50 anos de independência devem servir para uma reflexão profunda sobre a realidade que o país atravessa.O profissional espera que haja uma execução concreta por parte do executivo embora reconheça, por outro lado, que pode ser difícil, dadas as controvérsias que se assistem no quotidiano.
“ Nota-se uma divisão, há um grupo de pessoas a comemorar os 50 anos de independência, mas há outra parte, que alega não ter motivo de celebrar por causa da realidade do país, temos de apostar seriamente no combate a corrupção, fome e a pobreza, é bastante lastimável essa situação”.
Questionado o que gostaria de ver como resultados satisfatórios nesse período festivo, António Ambrósio anseia uma sociedade mais inclusiva, acolhedora onde não deveria faltar pão á mesa de cada família angolana, um teto para descansar tendo recorrido a uma expressão filosófica para dizer o seguinte “Primeiro é viver e depois filosofar, só terá força para filosofar se alguém tiver saúde, pois quem estiver mergulhado num clima de fome, pobreza e insatisfação nunca terá força de viver outras coisas “ ressaltou o profissional.
Já o Jornalista da Emissora Católica de Angola, Garcia Miranda esperava que a classe nessas celebrações fosse reconhecida a julgar pelo trabalho que realiza diariamente.
“ Somos os únicos que fiscalizamos todos os poderes ,e um reconhecimento seria a melhor prenda que nós, enquanto jornalistas, teríamos recebido, fazemos parte de uma história onde a gente narra tudo, mas mesmo assim não somos tido nem achados”, lamentou o jornalista da Rádio Ecclésia no Bengo que por conseguinte considera ser uma actividade que engrandece as acções de quem faz e não faz.
“ O mais triste é ir à rua fazer uma cobertura sem ter as mínimas condições laborais, mas tem a missão de trazer uma matéria à redacção e entrevistar um indivíduo com um poder financeiro e sermos desprezados ou ignorados”.
Por sua vez, o jornalista da Rádio MFM, Zacarias Congo destacou o papel da juventude no processo. Para ele, o alcance da paz é a maior conquista apesar de ser carregada com alguns efeitos negativos dada a actual conjuntura económica.
“ Temos de aproveitar o país a sua medida apesar das dificuldades, é a nossa pátria e não podemos mudar de país” enfatizou.
Zacarias Congo mostrou-se insatisfeito pela postura dos dinossauros da comunicação social que segundo ele estão mais interessados em criticar os pioneiros do jornalismo em vez de passar o real testemunho ou ensinamentos.
“Gostaria que os mais velhos do jornalismo angolano passassem o seu testemunho aos mais novos, temos estado a registar alguma tristeza pela forma como estes apontam à nova geração” lamentou para mais adiante dizer que “ é triste por exemplo sempre ver as mesmas figuras no telejornal da TPA, salvo uma ou outra vez vendo outro rosto mas depois fica estagnado, é verdade que a nossa geração é despreparada, vaidosa, mas também temos quadro e não é de todo bom que continuemos a assistir esse cenário” reprovou.
Quem também foi abordado por nós, é o jornalista Wilson Capemba da Marginal FM. O profissional entende que é o momento certo para se alicerçar as bases tendo em conta as inúmeras limitações e desafios assistidos no quotidiano, esta situação, segundo conta, leva as pessoas a perderem esperança de dias melhores.
“ É tão triste quando uma pessoa perde a capacidade de seguir em frente e sequer olhar para um futuro breve e isto nos preocupa, e quando a pessoa deixa de sonhar é mais perigoso, pois os sonhos alimentam as esperanças e quando não temos bom ânimo, não conseguimos sonhar e nem podemos perspectivar nada” rematou Wilson Capemba.
Para os jornalistas interpelados pelo nosso jornal, é necessário que cada um faça a sua parte e o estado angolano deve criar políticas que melhor congregam e que satisfaçam a população para que todos se possam sentir filhos da mesma mãe.
Importa referir que o Chefe de Estado angolano, João Manuel Gonçalves Lourenço, no quadro das celebrações dos 50 anos de independência condecorou várias personalidades dentre as quais alguns jornalistas de distintos órgãos de comunicação social.



Estão há fazer um bom trabalho, que continue com essa força de vontade que o país agradece..