
José Ventura,
Docente Universitário
No último final de semana assistimos a dois actos fortes de mobilização e demonstração de vontade política. Depois de, há poucos dias, o MPLA-Luanda, em Cacuaco, ter dado mostras de que não abdica do seu poder mobilizador na capital, a UNITA, no município do Kilamba, e o PRA-JA, no Calumbo (província de Icolo e Bengo), mediram a sua capacidade de atrair massas.
A UNITA, em acto político de massas no município de Kilamba manteve o olhar firme sobre o MPLA, seu adversário histórico há mais de 50 anos, questionando satírica mente quem de entre os camaradas manda em Luanda, se o político Bento Kangamba ou se é Luís Nunes, enquanto o partido dos “servidores”, ainda jovem e em fase embrionária, mas liderado por uma figura experiente, denunciava a governação e lançava olhares para o chamado partido dos “maninhos”, como quem observa irmãos gémeos.
Foi neste cenário que voltou à tona a utópica ideia de que o PRA-JA será governo em 2027, usada como verdadeiro slogan de propaganda política. É a partir desta premissa que a nossa análise encontra eco.
A frase muito propalada pelos servidores, de que será governo em 2027, apresenta-se como uma “certeza” que, em teoria, revelaria trabalho consistente e de longo prazo para alcançar tal objectivo. Contudo, este chavão parece servir mais para criar facto político e fixar-se no imaginário colectivo do que para anunciar um projecto sólido para Angola.
Se, para alguns, a afirmação soa como ousadia, para outros não passa de uma jogada de marketing. O discurso, repetido quase como máxima entre militantes e simpatizantes, chega ao ponto de prometer inclusão até ao próprio MPLA, que governa o país há mais de 50 anos.
Outra leitura possível é que tal narrativa visa também atingir os eleitores de outros partidos da oposição, sobretudo a UNITA, que há décadas tenta, sem sucesso, conquistar o poder. O slogan do PRA-JA funciona, assim, como uma demonstração de ambição, procurando transmitir a imagem de que o partido é o verdadeiro milagre angolano e verdadeira alternativa de governação e o caminho para a tão almejada alternância. Afinal, basta pensarmos na forma e na rapidez com que os servidores conquistaram a legalização do partido, depois de sucessivos chumbos do Tribunal Constitucional, com a esperança quase perdida.
Convém lembrar, entretanto, que o PRA-JA Servir Angola é ainda um partido muito jovem, que começa agora a dar os seus primeiros passos no cenário político nacional, em busca de reconhecimento e afirmação. Nesse sentido, a insistência no discurso de “ser governo” parece revelar mais a ansiedade de se fixar no espectro político do que uma real capacidade de apresentar soluções consistentes para os desafios de Angola.
Na prática, trata-se de uma retórica de autopromoção, sustentada mais no desejo de visibilidade do que na construção de propostas concretas que convençam os cidadãos de que o partido reúne condições efectivas para governar. Em outras palavras, o chavão de “ser governo em 2027” revela-se como a expressão de um populismo em ascensão, que vai sendo construído no espectro político para alimentar expectativas, mas carece de fundamentos programáticos capazes de sustentar um verdadeiro projecto de mudança.
Se o PRA-JA pretende, de facto, afirmar-se como alternativa credível, precisa ir além dos slogans e apresentar ideias claras, projectos exequíveis e soluções viáveis para os problemas que afligem os angolanos. Só assim poderá transformar a ambição em legitimidade e o discurso em verdadeira esperança de mudança.