
A prisão do presidente e do vice-presidente da ANATA – Associação de Taxistas de Angola, permanece como uma questão mal esclarecida pelas autoridades, levantando dúvidas sobre a relação entre a actuação da associação e as convulsões sociais ocorridas no período da paralisação dos serviços de taxi.
Do ponto de vista sociológico, não se demonstra uma ligação de causa e efeito directa entre a convocação da paralisação e os tumultos subsequentes, o que sugere que os protestos tiveram múltiplas motivações, para além da orientação formal da associação.
Enquanto opinião pública, compreendemos que os taxistas não conseguiram, eles próprios, articular de forma clara os fundamentos da sua acção coletiva. Contudo, na prática, após os incidentes, passaram a cobrar as corridas de acordo com os valores estipulados pelo governo, em consequência da subida do preço do gasóleo.
Essa mudança expõe uma contradição: se por um lado evidencia incerteza quanto à intencionalidade da paralisação, por outro revela a condição estrutural de vulnerabilidade desses trabalhadores, que são maioritariamente produtores de mais-valia no sector informal urbano e dependem directamente da política de preços dos combustíveis para a sua sobrevivência.
Do ponto de vista da política social, este episódio denuncia a ausência de mecanismos eficazes de diálogo e mediação entre Estado e associações de trabalhadores informais.
Em vez de promoverem a negociação, as tensões acabaram judicializadas, com os dirigentes da ANATA – já então fragilizados por divergências internas a serem levados à prisão.
Hoje, o presidente e o vice, encontram-se em litígio dentro da cadeia, se gladiando enquanto esperam o devido trâmite legal, numa situação que revela não apenas conflitos de liderança, mas também a precariedade da representação de interesses das categorias profissionais populares.
Assim, o caso da ANATA não é apenas um episódio policial ou jurídico, mas um reflexo das fragilidades na organização social dos trabalhadores informais, da insuficiência de políticas públicas voltadas à protecção do sector, e da tendência das autoridades em criminalizar a contestação em vez de institucionalizar o diálogo.
Prof. José Ventura
Mestre em Política Social e Licenciado em Ensino da Sociologia.